Autores: Suzana Battistella e Delane Botelho
Instituição: FGV EAESP
E-mail para contato: suzanavbattistella@hotmail.com/delane.botelho@gmail.com
Muitas vezes quando um grupo de mães se reúne para conversar, a palavra culpa aparece. Culpa por passar muito tempo fora de casa por causa do trabalho, culpa por perder a paciência, culpa por ir a um fast-food quando acha que deveria estar em casa saboreando uma refeição saudável... Claro, nem todas as mães sentem culpa, mas sem dúvida este é um sentimento que surge com muita frequência, tanto que há um ditado popular que diz “nasce a mãe, e com ela a culpa”. Mas porque isso acontece?
Há dois motivos principais. O
primeiro deles é o fato da maternidade ser algo idealizado pelas mulheres, ou
seja, muitas imaginam que ser mãe é algo que lhes trará felicidade plena, que
um filho irá completar a sua vida. É verdade sim, um filho traz uma alegria
muito grande. Mas antes de planejar o seu nascimento nem todas as mulheres
lembram que toda esta alegria vem acompanhada de cansaço, esgotamento e uma
grande dose de sacrifício. Muitas mulheres idealizam um modelo de mãe perfeita,
que conseguirá conciliar trabalho e família, que estará presente em todos os
momentos importantes da vida de seus filhos, que saberá como alimentar, educar
e proporcionar as melhores chances para o desenvolvimento de seu filho com
perfeição. Mas depois que a criança nasce e estes ideais não são cumpridos a
mãe passa a sentir culpa. Culpa por não estar de acordo com aquele modelo que
ela imaginava, por não conseguir corresponder ao seu ideal de uma boa mãe, ou
por não corresponder ao que as outras pessoas próximas de si julgam ser uma boa
mãe.
Um outro motivo que leva ao
sentimento de culpa é a responsabilidade que, em muitos casos, ainda recai em
grande parte sobre a mulher, mesmo havendo pais que estão participando cada vez
mais. Para entender um pouco melhor sobre o sentimento de culpa e suas
implicações, entrevistamos algumas mães e foram poucas as que afirmaram que há
uma divisão totalmente igualitária do trabalho dentro de casa. E quando a
responsabilidade não é dividida, a culpa também não é. Nas sociedades em que a
responsabilidade de criar os filhos recai exclusivamente sobre a mãe, a culpa
também recairá, afinal se a criança for mal-educada, fizer birra, for um
problema na escola, a culpa é de quem? De quem tem a responsabilidade de
educá-la.
Mas a culpa tem o seu papel
importante: é ela quem motiva a mãe a rever suas atitudes e decisões. E isso
acontece porque é um sentimento com o qual não gostamos de conviver, portanto
precisamos fazer algo para eliminá-lo. Existem vários modos de lidar com a
culpa: a mãe pode se imaginar na mesma situação e prometer que não fará a mesma
coisa novamente, pode transferir a culpa para outra pessoa ou para as
circunstâncias, ou pode fazer algo para deixar a “vítima” do seu sentimento
mais feliz: ceder a algum pedido do seu filho ou até mesmo comprar presentes
para ele. E foi esta possibilidade de lidar com a culpa que motivou a nossa
pesquisa; nós gostaríamos de entender se o consumo
poderia ser uma das formas de eliminar o sentimento de culpa.
Para responder a esta pergunta,
pedimos a mais de 200 mães que imaginassem uma mulher com um filho pequeno e nos
respondessem o que ela faria em algumas situações de consumo. Em um caso o
filho estaria muito bem, feliz, acompanhando as atividades da escola e a mãe
estaria tranquila. Em outro caso a criança teria dificuldade de relacionamento,
não estaria muito bem na escola, e uma psicóloga havia aconselhado a mãe a
passar mais tempo junto com o filho. Depois comparamos as respostas: aquele
grupo de mães que imaginou alguém que sente culpa em relação ao bem estar do
seu filho indicou que a mãe compraria com mais frequência o que filho pedisse,
deixaria que ele influenciasse mais as suas compras e compraria mais coisas
desnecessárias do que as mães que estavam mais tranquilas em relação ao cuidado
de seu filho. Ou seja, as mães que sentem mais culpa seriam mais permissivas em
relação ao consumo do que as que não sentem culpa.
Depois fizemos mais uma pesquisa,
perguntamos a um outro grupo de mães como elas se sentem em relação ao seu
filho (o link da pesquisa foi disponibilizado neste blog, pode ser que você
tenha participado) e como são seus hábitos de consumo em situações que envolvem a
criança. Separamos dois grupos: aquelas que sentem muita culpa e aquelas que
sentem pouca ou nenhuma culpa. Comparamos as respostas sobre os hábitos de
consumo e o que descobrimos? Não houve diferença em relação à frequência com
que se atende aos pedidos de compra dos filhos ou se permite a sua influência
na escolha de produtos. Mas houve uma diferença em relação à frequência de
compra de produtos supérfluos, ou seja, produtos que não são realmente
necessários. Ou seja, as mães que sentem mais culpa compram produtos supérfluos
com mais frequência do que aquelas que não sentem culpa.
E o que esta pesquisa nos mostra?
Que há um estereótipo de que as mães que sentem mais culpa são mais permissivas
em relação às solicitações de consumo de seus filhos, mas não pudemos comprovar
que isso realmente acontece. O que verificamos é que as mães que sentem mais
culpa compram mais produtos desnecessários para seus filhos, ou seja, o consumo
pode sim ser uma forma de aliviar este sentimento. Não estava dentro do escopo
desta pesquisa entender qual a consequência desta atitude, mas ter a consciência
de que isso acontece seria o primeiro passo para refletir se este é, ou não, um
bom modo de amenizar o sentimento de culpa.
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